terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Pirmeiro encontro com o Gladiador cadeirante foi assim..

Por Anderson Barbosa
 
Eram pouco mais de cinco anos de emissora e ainda sentia o coração bater forte toda vez que entrava ao vivo em um dos telejornais da casa. Era como se fosse a primeira vez... Dezenas de ensaios, texto repassado, marcação feita com direção de tv, mas na hora que o apresentador me chamava era sempre a mesma emoção.
Os mais experientes dizem que o frio na barriga e a taquicardia são o termômetro do  grau de prazer pela atividade que desempenhamos. Se as emoções desaparecem, já não estamos fazendo com a mesma empolgação de antes.  E mais: O medo de errar – não exagerado – serve para aprimorar nosso trabalho e buscar fazê-lo cada vez melhor.
Em dezembro de 2011, tive a primeira experiência de fazer um ao vivo dentro de um estúdio. Na verdade era um dia de estreia para uma turma no programa Viva Esporte (Tv Sergipe): Ana Fontes (repórter  – com anos de bagagem na reportagem geral - faria as entradas ao vivo no esporte – área que ela não domina); Tâmara Oliveira (repórter – que iria apresentar o programa cobrindo as férias da apresentadora Lanne Pacheco); Thiago Barbosa (editor de texto, o qual faria sua estreia  como editor-chefe); e eu (repórter da geral, mas que sempre estava a disposição do esporte) farias as intervenções na entrevista e seria o responsável por fazer as perguntas enviadas pela internet pelos telespectadores, no lugar de Marcelo Carvalho – também em férias.
Como quase tudo em jornalismo é na base do improviso, só fui comunicado pela chefia de redação da estreia no estúdio um dia antes, sob a justificativa que seria a “melhor” pessoa para contribuir na entrevista que abordaria um assunto relacionado a pessoa com deficiência, em comemoração ao dia 3 de dezembro.
Confesso que estúdio nunca me empolgou, mas senti uma certa satisfação.  Porém, estar nas ruas ouvindo pessoas além de ser mais prazeroso torna-me mais  eficiente no trabalho. Acredito que lugar de repórter é na rua, é onde tudo acontece, histórias surgem, temos um contato mais próximo com as pessoas, o retorno do nosso trabalho, as críticas que nos chegam e ajudam no crescimento profissional. Isso sem falar nas amizades que entre uma pauta e outra acabam surgindo. Muitas vezes ouvimos coisas do tipo: “você é mais feio pessoalmente” ou “vigi como ele é magro”, mas isso é um mero detalhe ( Atire a primeira pedra jornalista de tv  que nunca viveu situação semelhante? Se bem que muitos já deve ter ouvido: “vc é mais bonito pessoalmente”, já ouvi também, mas em menor escala... rss).
Voltando ao dia de estreia no estúdio ao vivo, as horas que antecederam o programa foram de muita ansiedade, nervosismo, medo de errar. Por alguns instantes, o incentivo de colegas mais experientes trazia uma certa tranquilidade, só que era momentânea, e logo vinha a sudorese, a fala rápida, a taquicardia. Tâmara Oliveira estava mais preparada. Dias antes tinha feito piloto (gravação para simular o programa, uma espécie de ensaio), acompanhou a edição das matérias e estava com uma lista de perguntas - para em caso de esquecimento – serem utilizadas pela dupla. Mas tanto ela, quanto eu era só orações feitas entre a redação, camarim, sala de espera dos entrevistados e o estúdio. A turma do estúdio era só incentivo, colocando só força e fé. Eles estavam mais confiantes que nós (rss).
Quem me conhece sabe o quanto a ansiedade me atrapalha. Quando penso que está tudo tranquilo, lá vem a bendita para causar seus estragos. O bom é que tenho contornado (eu acho rss). Trinta minutos antes do programa entra no ar, já vestido a caráter e maquiado, foi conhecer os entrevistados: Maria Gilda (cadeirante, atleta de vários modalidades esportivas) e Ulisses Freitas (cadeirante, também atleta de várias modalidades).





Fonte: arquivo pessoal

Na pré-entrevista a conversa fluiu (e se repetiria depois no estúdio)... Senti mais confiança e percebi que o tempo reservado para a entrevista de estúdio seria pequeno para tanto assunto e histórias a seres mostrados ao telespectador. Mais uma vez, na minha jornada como jornalista, tive a oportunidade de conhecer um exemplo de superação, Ulisses Freitas. História que compartilho nas próximas linhas contadas em primeira pessoa:

-Tenho 32 anos, casado, pai de um filho de 8 anos, sempre fui apaixonado por esportes, jogava futebol e capoeira, antes de adquiri a lesão medular e ficando paraplégico, sou o filho mais velho de seis Irmãos homens, de família humilde, mas com muito caráter.
No ano de 2008 eu (Ulisses Freitas) e meu Irmão (Arquimedes) entramos para a Polícia Militar do Estado da Bahia e fomos para cidade de Paulo Afonso no 20º Batalhão. Nos finais de semana voltávamos para nossas casas. Sempre andávamos dentro da Lei e com prudência. Além de visitar a família nos finais de semana, tinha um Projeto Social de nome “Capoeirando na Escola”, dava aulas de capoeira e debatia assuntos (violência, alcoolismo, drogas etc) com alunos da rede pública de ensino, crianças entre 06 e 14 anos.


Ulisses Freitas, um exemplo de superação



No dia 22 de agosto de 2008 quando voltávamos para nossas casas, em uma moto, como de costume, aconteceu!  Fomos atropelados por um Sargento (este preso várias vezes por se envolver em brigas devido ao alcoolismo) que nos arremessou 40 metros depois do choque, parando no acostamento da contra mão.
Arquimedes (meu Irmão) com traumatismo já estava inconsciente, eu com várias dores, fraturas, escoriações, e já não sentia minhas pernas, depois foi diagnosticado a lesão na medula onde até hoje estou numa CADEIRA DE RODAS, mesmo assim não perdi a consciência, não perderá a consciência em momento algum. E tive de ouvi o deboche do “Sargento” que ao sair do carro foi a frente e exclamando, bradou: “Porra meu irmão o que você fez com meu carro? você amassou o meu carro!”. Infelizmente no dia 28 de agosto do ano de 2008 Arquimedes faleceu, não suportou os ferimentos, deixando familiares, amigos, esposa e principalmente sua maior alegria sua filha Eulália que só tinha 2 anos.

Ulisses Freitas, que assina no Facebook como Gladiador Cadeirante, teria sua vida mudada após a tragédia. Sem o irmão, ele teria que vencer outra batalha a de viver numa cadeira de rodas:

-No meu primeiro internamento fiquei 4 meses, sendo 22 dias na UTI, passando por 6 cirurgias. Sair do hospital numa cadeira de rodas e cheio de problemas de saúde. No mês de abril de 2009 tive que voltar para o mesmo hospital, desta vez com uma infecção no osso da coluna (osteomelite crônica) e passei por mais 4 cirurgias, agora  por um período maior: mais 7 meses internado, com alta hospitalar só em novembro de 2009.

Superada mais essa batalha, o nosso Gladiador Cadeirante viveria um drama ainda maior: a aceitação de não ter na cadeira de rodas uma parceira inseparável. Mas foi na ausência do irmão que Ulisses encontrou forças pra seguir:

- Apesar da dor da perda do meu Irmão, hoje as coisas estão diferentes, sei, tenho certeza que meu Irmão quer que eu viva, que conquiste o mundo por ele e por todos nós, ele é meu combustível. Sempre fui um esportista, logo percebi que Bebidas alcoólicas (que usava até o ano de 2005) não combinavam com esporte, e assim optei pelo esporte, capoeirista, e nos momentos de lazer amante do futebol. Mas o destino prega peças e com isso, estando numa cadeira de rodas, logo veio: a dor e sofrimento pela perda de uma pessoa amada, a revolta de não poder andar, o ódio da cadeira de rodas, a vontade de não viver (suicídio), a depressão, a prisão sem muros (minha casa), momentos triste, que hoje dou risadas, por sorte passei rapidinho por cada fase infeliz que todos, mas todos mesmo passam, e alguns deficientes físicos ficam presos em alguma fase, agradeço a Deus e depois a meu Irmão por passar por todas essas fases e hoje ser o que sou:  uma pessoa mais feliz do que antes, a cadeira de rodas hoje abriu as portas do mundo, sou muito mais feliz, adoro minhas cadeira de rodas.


Fonte: arquivo pessoal



E ele segue:

- Encontrei forças principalmente em meu Irmão Arquimedes, minha esposa, meu filho, Irmãos na família em geral e nos amigos, e vi no esporte algo a mais a se fazer, novos desafios, limites a serem ultrapassados, o Basquete sobre cadeira de rodas foi o primeiro, hoje jogo pela equipe o CIEP-SE onde representamos o Estado de Sergipe, fui para o atletismo (corrida), mas como todo esporte tem suas dificuldades, no para-esporte as dificuldades são maiores. Não consegui uma cadeira de rodas de corrida, e com essa frustração comprei uma Hand bike - uma bicicleta com propulsão nas mãos - e hoje estou entrando forte no ciclismo (handcycle), onde estou me preparando para a Copa do Brasil em SC e o campeonato brasileiro em Brasília, vejo no esporte individual a chance de ser o primeiro sergipano a ganhar um titulo mundial e participar da paraolimpíadas de 2016, espero que o governo e empresários vejam a oportunidade e me deem chance de treinar e vencer.
Carrego algumas frases do Gladiador que é o lema de nossa família: “O que fazemos na vida, ecoa na eternidade” –Gladiador. E outras, que sempre quando estou competindo fico repetindo e pensando nos familiares , amigos e meu Irmão: “Limites todos nós temos, deficiência esta na cabeça de quem a pensa” - Ulisses Freitas; “Não tenho medo de cair, terei medo de um dia não ter forças de levantar” - Ulisses Freitas


Ulisse Freitas é do Basquete do Ciepe/SE

Ulisses Freitas: O Preço de um Sonho

Por Anderson Barbosa
(jornalistaanderson@yahoo.com.br)


Quanto valeu um sonho? Um milhão e meio de reais? Uma frota de carros ou centenas de imóveis de luxo? Para o paratleta Ulisses Freitas o sonho custa 30 mil reais. É o valor necessário para comprar uma hadbike (bicileta de mão) importada. Ele acredita que com ela vai ser possível alcançar à Paralimpíada 2016, aqui no Brasil. "Vou te mostrar que serei o primeiro sergipano em uma Paralimpíada, mas para isso preciso de uma bike que me dê chance de competir de igual para igual com os outros atletas e com os gringos", explica.


Foto: Fábio Linhares
 

O sonho virou informação no site Vakuinha (http://www10.vakinha.com.br/VaquinhaE.aspx?e=252938), um desejo que necessita de apoio, afinal ser atleta neste país não é fácil. "Tenho em mim que o ser humano vive de sonhos, comigo não é diferente, tenho grandes sonhos. Agradeço todos os dias por tudo que conquistei, das menores as maiores conquistas, mas para que esses sonhos virem realidade, preciso da ajuda de todos. Não é fácil ser atleta e se manter quando falamos de qualquer esporte, ainda mais no Ciclismo, onde uma boa porcentagem do desempenho nas competições depende bastante do equipamento usado", explica Ulisses.

(Foto: Arquivo Pessoal)


Para se somar a causa basta comprar um bilhete de uma rifa de uma bicicleta no valor de 10 reais, parece tão pouco, mas é de 10 em 10 que o Guerreiro espera conquistar mais um degrau nesta vida.

Na busca do objetivo Ulisses trancou a faculdade de Direito (2º período) para se dedicar aos treinos diários e o apoio da família foi indispensável. O desejo é ser visto pelos técnicos, medalhar mais, porém ele sabe dos riscos, da necessidade de terceiro para primeiro no ranking nacional da categoria HC3. "Estou forte como um cavalo, mas preciso de equipamento", justifica.

(Foto: Arquivo Pessoal)


"Falando com minha esposa disse: poxa, posso comprar um carro e curtir, estudar e trabalhar, ganha dinheiro Mas se chegar em 2016 e eu vê e pensar, poderia ser eu ali. Então quero gravar meu nome e pode ter certeza que não vou para passear, vou gravar meu nome com medalha para ser lembrado para sempre", foi o depoimento que recebi num final de noite por uma rede social, quando encerrava meus trabalhos na emissora que trabalho.

São histórias como estas que merecem ser conhecidas, apoiadas e incentivadas pelos grandes empresários. Agora, se neste país os grandes se omitem, cada um de nós podemos unir forças e acreditar em quem tanto tem para conquistar. Não duvide, que ainda vamos ouvir o nome de Ulisses Freitas ecoar neste país, afinal ele já ecoa em nossos corações.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Hathoga Divino, um jovem que escreve com a alma...

Por Anderson Barbosa

A internet é uma ferramenta fascinante, nos faz viajar pelo mundo em questão de segundos. Bastam apenas alguns minutos para fazer descobertas, construir laços, mergulhar na vida de pessoas que até então nem sabíamos da existência. Há quem diga ser um caminho perigoso... há quem jure ser uma trilha de sorte... mas o fato é que se bem usada pode construir pontes.

Foi numa dessas viagens, falando com um amigo padre Murilo Moraes, que conheci a história de um rapaz com um desejo imenso de mostrar ao mundo que ser jovem com deficiência é normal. Hathoga Custódio Divino é seu nome: sonhador e dono de uma inteligência em potencial, tudo isso num rapaz de 36 anos, o qual sonha com a faculdade de Psicologia.



Foto: Arquivo Pessoal
 
 

Quando nasceu, Hathoga teve uma paralisia cerebral deixando-o com algumas limitações físicas, nada que atrapalhasse a convivência com a família e amigos mais próximos. Ele só foi perceber a barreira que a deficiência lhe trouxe pelo olhar do outro, um olhar preconceituoso, carregado de ignorância. "Uma vez uma senhora chegou em minha casa e disse que não era pra falar sobre sexualidade porque eu poderia virar um maníaco sexual. Isso me doeu muito", lamenta.

Durante o nosso bate-papo pelo Facebook, a conversa foi completada com uma sequência de frases profundas, carregadas de um sentimento de alguém cansado de ser visto como peso: "O preconceito para mim é uma ditadura intelectual. Pra mim, se um pessoa com deficiência não fizer uma experiência pessoal com o Amor de Deus não suportaria tal preconceito".



Hathoga é àquele tipo de jovem que busca na fé explicações para a vida e na Igreja encontrou o conforto que o mundo nunca lhe ofereceu. Hoje, participa do movimento chamado "Comunidade Eclesial de Base", como ele mesmo diz: "está na luta contra todos os tipos de opressão".

O meu amigo padre tinha conversado sobre o fiel de sua igreja com uma capacidade imensa de se expressar pela literatura. Ele havia escrito 7 livros, todos a espera de uma editora interessada pelos manuscritos do jovem.

                             "O preconceito para mim


                             é uma ditadura intelectual.



Um desses romances é "Inclusão na Escola em Clima de JMJ" que narra a história de um jovem  que sonha em ver o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no ano passado no Rio de Janeiro. O desejo foi provocado por uma professora que aceita um jovem "deficiente" em sala de aula e por isso é perseguida pela ditadura do preconceito.

"É uma autobiografia?", perguntei. "É, eu que inventei a história, escrita de setembro para outubro de 2012 e já lancei para meus amigos em julho de 2013, mês da jornada. O lançamento foi no dia 6 daquele mês, dia de Santa Gorette, uma adolescente que conservou os valores cristãos", justificou Hathoga.



De entrevistado, ele passou a entrevistador: O que levou o senhor a trabalhar com a inclusão? desculpa a pergunta... Este é um questionamento que ao longo dos anos se repete. "Uma dificuldade pra fazer uma reportagem com jovens com deficiência auditiva para a revista Perfil (Itabaiana/SE). Não sabia como entrevistá-los, pois não domino a Língua Brasileira de Sinais. Daí estudei sobre o tema e fiz o jornal Inclusão (meu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo), e vários blogs com o nome de Inclusão Sergipe e agora o Trilhos da Inclusão", respondi. Seguimos a conversa com uma frase dele: "Continue assim e Deus lhe protegerá".

Fiquei curioso para saber como foi que ele viveu a Jornada com os cerca de 4 mil jovens comandados pelo líder Francisco, mas logo fiquei sabendo que não viajou, acompanhou de casa, em Canhoba/SE, pela televisão: "Queria muito ter ido, mas não tive oportunidade. Tudo concorre para o bem daquele que ama a Deus. Seria muito difícil a locomoção. sou portador de uma deficiência e ando muito com minha mãe. Compreendo que era muita gente e tenho minhas limitações, tenho que está sempre acompanhado". E completou dizendo ainda continuar espalhando os ensinamentos do encontro.



Estava muito curioso com toda essa história e perguntei: "Se você tivesse a oportunidade de ficar pertinho do Papa Francisco, o que pediria a ele?". E não demorou para surgir na tela do computador o texto, mais um apelo que brotou do fundo do coração: "Que diga aos jovens com deficiência que nunca deixem de sonhar, que nunca desista dos seus sonhos. Seja ousado naquilo que aposta, persiga a estrela dos seus sonhos".
Hathoga não imaginava, mas naquele momento deixou um grande aprendizado para este jornalista...

Fotos: Arquivo Pessoal de Hathoga Custódio Divino

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Medalhistas da Vida...

Por Anderson Barbosa

Sábado, 31 de agosto de 2013... Mais um plantão que chega e quando me dei conta já estava no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em Aracaju. Era mais um final de semana de olhos voltados às notícias do esporte sergipano, área que não está entre as minhas preferidas, mas vez ou outra surgem histórias envolventes.

O final de semana foi na companhia do cinegrafista Dedé Simões e do motorista Oswaldo. Nossa missão naquele início de manhã era cobrir a Copa Universitária de Badminton e a 2ª Etapa do Campeonato Sergipano de Parabadminton, eventos que ocorriam ao mesmo tempo.





O Badminton é uma modalidade olímpica onde se usa uma peteca menor que 10 centímetros, pesando cerca de 5 gramas. Com uma raquete de haste prolongada, o jogador tem que impulsionar o artifício com o intuito de desequilibrar o oponente e rebater o maior número de saques.

Pois bem... Na quadra de esportes da universidade encontrei os competidores e a organização do evento. Em poucos minutos chequei datas, informações da pauta e coletei elementos para voltar à redação com uma boa matéria, mesmo tendo de vencer o maior adversário: o sono.
 
"A dificuldade tem que
 
ser superada sempre"
 
Rômulo Soares


Ali também reencontrei Natália Leão, uma paratleta de muitas faces no mundo do esporte que apoiava os colegas envolvidos na disputa; e Maria Gilda, outra mulher com disposição para praticar natação, atletismo, basquete e handebol, além de encarar a faculdade de Educação Física-Bacharelado na UFS.
Para Maria Gilda o sábado foi de estreia, após descobrir o parabedminton em fevereiro de 2013. "Este foi mais uma modalidade que adotei. Entrei por conta do curso e agora virou o meu mais novo mascote".



 
 
No olhar e comportamento daquela mulher firmeza de uma veterana. Ao me aproximar, logo captei os motivos que a levaram a se inscrever no campeonato. "É muito importante participar por ser uma forma de mostrar que o paradesporto está também no badminton", justificando a presença de apenas 3 competidores com algum tipo de deficiência.
Logo na primeira competição Gilda encarou nada menos que o campeão panamericano de duplas, primeiro do ranking brasileiro e sétimo no mundial, Rômulo Soares que veio de Brasília participar da competição. Para ele, uma forma de difundir a modalidade no meio acadêmico, defender o título conquistado em 2012 e treinar para o Mundial na Alemanha.
 
 
Há 18 anos, o quarentão Rômulo Soares teve uma inflamação na medula, paralisando as pernas, mudando o jeito de ser e encarar a vida. Rômulo precisou reaprender a ser pessoa, necessitou reaprender a andar. Ao invés das pernas, uma cadeira e nas laterais duas rodas. "No começo foi um baque muito forte, mas depois consegui superar legal, porque a dificuldade tem que ser superada sempre", observou.
 
Na quadra Maria Gilda e Rômulo Soares estavam em lados opostos, brigavam para pontuar mais. Dificuldade da principiante, show de habilidade para quem há 4 anos pratica o esporte. Um jogo de muitos confrontos, onde não havia um único vencedor e sim dois campeões, dois medalhistas da Vida.
A dupla ensinava para todos nós que problemas e dificuldades existem e são desafiadores para qualquer ser humano. Porém, devem ser enfrentados como mais uma etapa da vida. Sofrer sim quando a dor bater: chorar sim, quando a dor se fizer mais latente e a única saída é a tradução em lágrimas; agora, nunca baixar a cabeça ou desanimar e muito menos sentir-se um perdedor...


 
A vida é como uma imensa montanha russa, em alguns momentos estaremos sentados de forma confortável, outras vezes de ponta cabeça. Consegue ficar firme quem for levado pela emoção, a mesma que causa frio na barriga, e na parada final arranca àquele sorriso acompanhado da frase: faria tudo outra vez.
Altos e baixos também foram registrados durante a partida de badminton. Entre saques, defesas e pontos marcados Maria Gilda deixou a mensagem que nem sempre conseguimos captar: "Vem pro mundo, porque viver é muito bom".

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Grito Que Vem das Ruas II

 
Sensação de dever cumprido. Este foi o sentimento após a exibição da reportagem sobre os Moradores de Rua de Aracaju nos telejonais da emissora que trabalho.

A matéria (executada em parceria com o repórter cinematográfico Cleones Santos, o motorista Alex Brum e a da produtora Vanúzia Machado), rendeu muitos telefonemas na redação da Tv Sergipe. Era gente querendo saber onde encontrar os personagens, outras querendo fazer doações na própria tv... teve até uma senhora disposta a doar uma casa para o morador de rua que encerrou a reportagem pedindo um casa, nem que fosse a conta dele entrar.

Confesso que fiquei surpreso com a solidariedade do povo do meu estado. Percebi que mesmo com as autoridades fechando os olhos para essas pessoas, ainda existem cidadãos com o coração disposto a ajudar.

No dia seguinte, uma mensagem chegou ao meu celular. Era um ex-vizinho, Alyson Rocha, dizendo que a matéria mexeu tanto com ele e com uma colega que os dois resolveram fazer uma campanha para ajudar àquelas famílias.



No último dia 10, depois de dias de coleta, e logo após a entrega de sopa, feita semanas antes, finalmente puderam entregar as roupas doadas pela comunidade aracajuana. As pessoas tiraram o que era sobra no guarda-roupa e partilhou com os pobres.

Desta vez, quem fez a reportagem foi o colega Cléverton Macedo com o cinegrafista Cleones Santos. As imagens e os depoimentos trazidos na matéria, exibida no dia 12 de setembro, reforçaram a ideia que não basta muito para ser feliz. Para àquela gente, um pouco de pão, roupa e um lugar em paz para descansar já é suficiente.


Foto: Ascom/Guarda Municipal de Aracaju

Pela rede social, Alysson postou um depoimento sobre a campanha: "Certo dia em casa, assistindo uma reportagem exibida no SE TV 2ª Edição da TV Sergipe e apresentada por Anderson Barbosa, Gaibi Teles e eu nos deparamos com uma realidade que tantos de nós fechamos os olhos, não damos importância, e até mesmo preconceituosamente por muitas vezes negamos. Pois bem, acredito que um dos objetivos daquela reportagem foi não somente comunicar, mas, também conscientizar, despertar na sociedade algo a ser refletido. Foi isso que aquela equipe de TV conseguiu fazer conosco.

Nos incomodamos, levantamos da cadeira, descruzamos os braços graças aquela noite.

Com isso, fica aqui o meu agradecimento e de Gabi Teles a todos que colaboraram para o sucesso da "CAMPANHA DO AGASALHO",
Caio Andrade e Paulinho Costa, vocês abriram as portas para nos dar todo o suporte, Paulinho Santana com seu talento e profissionalismo que elaborou a arte da campanha que muito bem identificou o nosso objetivo, agradeço aos nossos amigos (não arrisco citar nomes para não ser injusto com ninguém) que fizeram suas doações, colaboraram, , curtiram e compartilharam os nossos posts.

A Guarda Municipal de Aracaju, através de seu Diretor Cel. Enilson que juntou forças e demonstrou atenção e total interesse em seus munícipes.



Foto: Ascom/Guarda Municipal de Aracaju



Não posso deixar de registrar aqui o apoio dos meios de comunicação: TV Sergipe (afiliada Globo), TV Atalaia (afiliada Record) em nome de Bareta e Dona Lígia e Jornal Cinform e a página do FACE

Aracaju, como eu vejo. que tão importantes foram para a disseminação desta ação

Saibam todos, estamos muito felizes com o sucesso da campanha, foram mais de 1000 peças arrecadadas.

Ontem, 10 de setembro fomos ao centro da cidade e região dos mercados para realizar a entrega de uma parte da arrecadação, isso mesmo uma parte, pois o volume de peças foi tão grande que não deu para distribuir tudo de uma única etapa, em breve faremos a segunda etapa de entrega e manterei a todos informados"
.



Fizemos a nossa parte. Falta o Governo fazer a dele!!!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Grito que Vem das Ruas...


Por Anderson Barbosa


Foto: Reprodução Tv Sergipe


Não tem pauta melhor do que àquela pensada pelo próprio repórter. Sensação ainda mais gratificante é quando a nossa ideia é abraçada por toda a equipe. Foi assim com a matéria sobre os Moradores de Rua que vivem em  Aracaju exibida nos telejornais SETV1 e SETV2 da Tv Sergipe, afiliada à Rede Globo, onde trabalho há 7 anos.

Todos os finais de tardes, a caminho da emissora, passo pelo centro comercial já no final do expediente. A grande maioria das lojas está com as portas fechadas e um outro tipo de comércio entra em cena. São dezenas de camelôs ofertando produtos do Paraguai a preço de banana, sem as garantias de um que chega ao país dentro das normas legais, mas que quebram o galho de muita gente, nem que seja de forma paliativa.


Cleones Santos, um repórter cinematográfico que vive a reportagem, tem amor pelo que faz...
 
Naquela segunda-feira, daquele 19 de agosto, viveria mais uma experiências  marcante em minha vida profissional ao lado dos colegas Cleones Santos (repórter cinematográfico) e Alex Brum (motorista).  Afinal, quantas vezes reclamos da comida que chega a nossa mesa, da cama que não foi coberta com o lençol predileto ou ainda,  reclamamos de passar uma noite sem o ar-condicionado. É até vergonhoso olhar tais situações como problemas , ainda mais quando observamos esta gente sorri por receber um simples prato de comida, o primeiro do dia, assim como foi para seu Ginaldo após o café reforçado feito por voluntários que todas às noites partilham o fruto de doações de tantos que se sentem felizes em matar a fome desses abnegados.

Foto: Reprodução Tv Sergipe

Há meses tinha buscado neste caminho uma forma de contar a rotina ignorada por alguns membros da sociedade, mas que segundo a Prefeitura de Aracaju são mais de 400 pessoas vivendo nestas condições conforme um cadastro municipal.

Após cruzar o calçadão, sigo ao lado do maior prédio da capital, o do Estado de Sergipe ou Maria Feliciana como é mais conhecido - uma homenagem à mulher mais alta de Sergipe. Nos próximos 300 metros a caminhada é por uma cidade que parte das milhares de pessoas que cruzam o centro comercial todos os dias não imaginam  existir.

Às calçadas cobertas por todos os tipos de sujeira acumuladas ao longo do dia são transformadas em alojamentos, tomadas por pessoas que não têm onde morar, nem para aonde ir e fazem das ruas seu lugar de descanso. Aqui não se faz muita exigência: papelão no chão, lençol - para os que têm - e a esperança de dormir e acordar bem na manhã seguinte.

A paz nas ruas é uma incerteza perdurada pela noite e madrugada. Foi num desses dias que o alagoano Pedro Ambrósio, 35 anos, pai de 5 filhos acordou sendo alvejado por um homem enfurecido o qual deu vários golpes de facada. Por sorte, o desempregado conseguiu sobreviver e hoje ainda tenta entender o que provocou àquela atitude agressiva.

Seu Ginaldo Santos, um ex-trabalhador rural em Ilha das Flores (SE), trocou há 4 anos o campo pela capital na esperança de melhorar de vida. "A gente trabalhava  e depois quem passou a fazer tudo foram as máquinas. Aí ficou ruim de trabalho, aí eu vim aqui para Aracaju", relembra.

O tempo foi passando e a minha frente juntou um grupo de moradores que no primeiro contato não parecia a vontade com a câmera e o microfone, nossos instrumentos de trabalho. Depois de terem a certeza que nossa presença tinha a melhor das intenções, eles começam a disparar informações.

Foto: Reprodução Tv Sergipe
 
Seguimos na direção do INSS e na metade do caminho observamos que a vida nas ruas provoca traumas que mexem com a razão, provocam a loucura... Numa marquise encontramos duas senhoras, uma delas encostada num saco repleto de latinhas de alumínio catadas durante o dia. Aquele amontoado de material reciclável servia como travesseiro. Sentei ao lado dela e com uma gentileza daquelas de quem estava a procura de alguém para conversar foi logo respondendo minhas perguntas.

As informações eram desconexas, realidade e ilusão trilhavam um mesmo pensamento. A mulher disse ter 61 anos e demonstrou domínio em pelo menos duas línguas: Espanhol e Inglês. Fez até questão de cantar e traduzir uma música, uma espécie de oração, de clamor a Deus.

O frio parecia tomar as ruas vazias de Aracaju. Por voltas das 20h a chuva marcou  presença naquele noite de inverno. E se tem chuva na cidade, para os moradores de rua é motivo de preocupação. Com rajadas de vento, a sensação térmica é de um frio que a mente humana  nem sempre interpreta da mesma forma que os termômetros.

Seguimos para outro ponto da cidade, agora próximo aos mercados centrais. Pelos menos 10 pessoas estavam sob as marquises de lojas, cobertas por lençóis... A  posição fetal ajudava a manter o corpo aquecido.

Num barraco improvisado, avistamos uma senhora de nome Socorro que estava acompanhada do esposo, um senhor de pouca conversa. Há três meses o casal passou a morar na rua, apesar do marido passar o dia inteiro fazendo bicos.

Encolhida no barraco, protegida por lençóis e papelões cercando a construção improvisada no meio da calçada tentei falar com Socorro sobre a chuva e a queda na temperatura. "O frio aumenta na madrugada. Aí a gente cobre com papelão e fica normal", explicou ainda com um sorriso no rosto, seguido por um olhar preocupado com a impaciência do marido, irritado com a minha insistência.

Nesta mesma noite encontrei o médico infectologista Marco Aurélio, o qual explicou que a vida nestas condições faz cresce o número de problemas de saúde nesta população. "O frio aumenta o risco das pneumonias e infecções respiratórias que também  desenvolvem o risco de outras doenças, como a tuberculose.  A imunidade diminui ainda mais quando associam tudo isso ao uso de drogas como o crack".

Foto: Reprodução Tv Sergipe


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país cerca de 1,8 milhão de pessoas vivem nas ruas. Um contingente que representa entre 0,6% e 1% da população.  Um povo nem sempre compreendido. "Essas pessoas muitas vezes sofrem decepções familiares. São frutos do alcoolismo, sofrem com as drogas, abandonam os lares e não têm condições de psicológicas, nem sociais de enfrentar os problemas, por isso, passam a viver nas ruas e são marginalizadas pela sociedade", contou o mestre em comunicação e cultura Gilton Kenedy.

Durante a nossa reportagem encontramos dona Maria José, uma catadora de materiais recicláveis que tira do trabalho uma renda de R$ 200,00/ mês. É com este dinheiro que paga as contas do barraco comprado há 4 anos na região Norte de Aracaju. Da conversa que tivemos, o que mais chamou a atenção foi o fato dela está também há 4 anos lutando para conseguir algum benefício do Governo Federal.

A situação de onda Maria José é um problema que afeta outras  4,8 milhões de pessoas no Brasil vivendo em condições de extrema pobreza,  com renda mensal domiciliar igual a zero. Pouco mais de 11 milhões possuem a renda de R$ 1,00 a R$ 70,00 por mês, segundo o IBGE/2011. E é justamente esta desigualdade social o principal fator que leva muita gente a morar nas ruas.


sábado, 17 de agosto de 2013

Intérprete de Libras‚ um trabalho pela inclusão...

Por Anderson Barbosa

"Zelar pelos valores éticos... pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo...”, papéis atribuídos ao intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) estabelecidos na lei 12.319 de 2010, que entrou em vigor no país em setembro daquele ano, oito anos depois da Libras ser reconhecida como a segunda língua oficial do país.
 
Intérprete em sala de aula. Fonte: revistaescola.abril.com.br

O profissional  tem papel fundamental no processo de inclusão do surdo e hoje pode ser visto dentro da sala de aula, na televisão, em conferências e até mesmo em consultórios onde a presença das pessoas com deficiência auditiva acontece com frequência. “Trabalhar com surdos foi um dom que Deus me deu e uma opção de vida. Apoiá-los para tentar amenizar essa angústia é muito gratificante”, relata a intérprete Marlize Wolf Jaune, do Mato Grosso do Sul.

A lei federal, no artigo 2º traz a seguinte redação: O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa”. 


Intérprete de Libras,
uma ferramenta da inclusão

A comunicação feita com as mãos já havia sido lembrada pelo Decreto 5.526 de 2005, o qual concedeu às pessoas com deficiência auditiva o direito de ter um profissional intérprete nas escolas públicas, privadas, entre outros espaços. Segundo a Associação dos Intérpretes de Libras de Sergipe existem cerca de 80 intérpretes atuando em escolas das redes públicas  que atendem a 570 alunos no ensino médio e fundamental e cerca de 20 alunos nas universidades. 

Marcela Mendonça é graduada em educação física. Aos 4 anos teve caxumba, provocando perda auditiva que evoluiu do estágio  leve para o profundo. Ela bem sabe o significado de um intérprete. “Aos dezesseis anos de idade , fiquei praticamente surda”, relata.

Marcela Mendonça: "Com o intérprete, o surdo é incluído"


Para ela, ter um profissional que ajude na comunicação entre o cidadão surdo e as pessoas que não possuem a deficiência só fortalece o processo de inclusão. “Existem surdos que, por causa do seu histórico auditivo, não podem fazer o implante coclear. Com o intérprete, o surdo é incluído socialmente nas escolas, faculdade...”, observa Marcela Mendonça.

A pedagoga Joseneide Nunes trabalha como intérprete há 10 anos e é vice-presidente da Associação dos Intérpretes de Libras de Sergipe . Começou admirando jovens se comunicando utilizando a Libras. Quando fazia estágio na Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) de Aracaju  precisou aprender a linguagem para dar aulas de educação para o trânsito à estudantes surdos.

Atualmente acompanha um estudante com surdez profunda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Para realizar o trabalho‚ o estudo da Língua Brasileira de Sinais é contínuo. "A interpretação depende do contexto e o nós precisamos ter um rico vocabulário. Fiz muita pesquisa‚ nunca parei de estudar... Às vezes tem palavras sem o sinal e o intérprete tem que fazer a adaptação de fácil compreensão", explica.


"É um dia de luta pelo reconhecimento da profissão, pelo ingresso nas salas de aula"
Joseneide conhece histórias de pessoas  como a de um casal surdo que se deparou com profissionais da área médica  sem a formação em Libras e acabou passando a medicação errada. "Este fato nos incentiva a continuar junto a comunidade surda", disse.