quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Medalhistas da Vida...

Por Anderson Barbosa

Sábado, 31 de agosto de 2013... Mais um plantão que chega e quando me dei conta já estava no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em Aracaju. Era mais um final de semana de olhos voltados às notícias do esporte sergipano, área que não está entre as minhas preferidas, mas vez ou outra surgem histórias envolventes.

O final de semana foi na companhia do cinegrafista Dedé Simões e do motorista Oswaldo. Nossa missão naquele início de manhã era cobrir a Copa Universitária de Badminton e a 2ª Etapa do Campeonato Sergipano de Parabadminton, eventos que ocorriam ao mesmo tempo.





O Badminton é uma modalidade olímpica onde se usa uma peteca menor que 10 centímetros, pesando cerca de 5 gramas. Com uma raquete de haste prolongada, o jogador tem que impulsionar o artifício com o intuito de desequilibrar o oponente e rebater o maior número de saques.

Pois bem... Na quadra de esportes da universidade encontrei os competidores e a organização do evento. Em poucos minutos chequei datas, informações da pauta e coletei elementos para voltar à redação com uma boa matéria, mesmo tendo de vencer o maior adversário: o sono.
 
"A dificuldade tem que
 
ser superada sempre"
 
Rômulo Soares


Ali também reencontrei Natália Leão, uma paratleta de muitas faces no mundo do esporte que apoiava os colegas envolvidos na disputa; e Maria Gilda, outra mulher com disposição para praticar natação, atletismo, basquete e handebol, além de encarar a faculdade de Educação Física-Bacharelado na UFS.
Para Maria Gilda o sábado foi de estreia, após descobrir o parabedminton em fevereiro de 2013. "Este foi mais uma modalidade que adotei. Entrei por conta do curso e agora virou o meu mais novo mascote".



 
 
No olhar e comportamento daquela mulher firmeza de uma veterana. Ao me aproximar, logo captei os motivos que a levaram a se inscrever no campeonato. "É muito importante participar por ser uma forma de mostrar que o paradesporto está também no badminton", justificando a presença de apenas 3 competidores com algum tipo de deficiência.
Logo na primeira competição Gilda encarou nada menos que o campeão panamericano de duplas, primeiro do ranking brasileiro e sétimo no mundial, Rômulo Soares que veio de Brasília participar da competição. Para ele, uma forma de difundir a modalidade no meio acadêmico, defender o título conquistado em 2012 e treinar para o Mundial na Alemanha.
 
 
Há 18 anos, o quarentão Rômulo Soares teve uma inflamação na medula, paralisando as pernas, mudando o jeito de ser e encarar a vida. Rômulo precisou reaprender a ser pessoa, necessitou reaprender a andar. Ao invés das pernas, uma cadeira e nas laterais duas rodas. "No começo foi um baque muito forte, mas depois consegui superar legal, porque a dificuldade tem que ser superada sempre", observou.
 
Na quadra Maria Gilda e Rômulo Soares estavam em lados opostos, brigavam para pontuar mais. Dificuldade da principiante, show de habilidade para quem há 4 anos pratica o esporte. Um jogo de muitos confrontos, onde não havia um único vencedor e sim dois campeões, dois medalhistas da Vida.
A dupla ensinava para todos nós que problemas e dificuldades existem e são desafiadores para qualquer ser humano. Porém, devem ser enfrentados como mais uma etapa da vida. Sofrer sim quando a dor bater: chorar sim, quando a dor se fizer mais latente e a única saída é a tradução em lágrimas; agora, nunca baixar a cabeça ou desanimar e muito menos sentir-se um perdedor...


 
A vida é como uma imensa montanha russa, em alguns momentos estaremos sentados de forma confortável, outras vezes de ponta cabeça. Consegue ficar firme quem for levado pela emoção, a mesma que causa frio na barriga, e na parada final arranca àquele sorriso acompanhado da frase: faria tudo outra vez.
Altos e baixos também foram registrados durante a partida de badminton. Entre saques, defesas e pontos marcados Maria Gilda deixou a mensagem que nem sempre conseguimos captar: "Vem pro mundo, porque viver é muito bom".

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Grito Que Vem das Ruas II

 
Sensação de dever cumprido. Este foi o sentimento após a exibição da reportagem sobre os Moradores de Rua de Aracaju nos telejonais da emissora que trabalho.

A matéria (executada em parceria com o repórter cinematográfico Cleones Santos, o motorista Alex Brum e a da produtora Vanúzia Machado), rendeu muitos telefonemas na redação da Tv Sergipe. Era gente querendo saber onde encontrar os personagens, outras querendo fazer doações na própria tv... teve até uma senhora disposta a doar uma casa para o morador de rua que encerrou a reportagem pedindo um casa, nem que fosse a conta dele entrar.

Confesso que fiquei surpreso com a solidariedade do povo do meu estado. Percebi que mesmo com as autoridades fechando os olhos para essas pessoas, ainda existem cidadãos com o coração disposto a ajudar.

No dia seguinte, uma mensagem chegou ao meu celular. Era um ex-vizinho, Alyson Rocha, dizendo que a matéria mexeu tanto com ele e com uma colega que os dois resolveram fazer uma campanha para ajudar àquelas famílias.



No último dia 10, depois de dias de coleta, e logo após a entrega de sopa, feita semanas antes, finalmente puderam entregar as roupas doadas pela comunidade aracajuana. As pessoas tiraram o que era sobra no guarda-roupa e partilhou com os pobres.

Desta vez, quem fez a reportagem foi o colega Cléverton Macedo com o cinegrafista Cleones Santos. As imagens e os depoimentos trazidos na matéria, exibida no dia 12 de setembro, reforçaram a ideia que não basta muito para ser feliz. Para àquela gente, um pouco de pão, roupa e um lugar em paz para descansar já é suficiente.


Foto: Ascom/Guarda Municipal de Aracaju

Pela rede social, Alysson postou um depoimento sobre a campanha: "Certo dia em casa, assistindo uma reportagem exibida no SE TV 2ª Edição da TV Sergipe e apresentada por Anderson Barbosa, Gaibi Teles e eu nos deparamos com uma realidade que tantos de nós fechamos os olhos, não damos importância, e até mesmo preconceituosamente por muitas vezes negamos. Pois bem, acredito que um dos objetivos daquela reportagem foi não somente comunicar, mas, também conscientizar, despertar na sociedade algo a ser refletido. Foi isso que aquela equipe de TV conseguiu fazer conosco.

Nos incomodamos, levantamos da cadeira, descruzamos os braços graças aquela noite.

Com isso, fica aqui o meu agradecimento e de Gabi Teles a todos que colaboraram para o sucesso da "CAMPANHA DO AGASALHO",
Caio Andrade e Paulinho Costa, vocês abriram as portas para nos dar todo o suporte, Paulinho Santana com seu talento e profissionalismo que elaborou a arte da campanha que muito bem identificou o nosso objetivo, agradeço aos nossos amigos (não arrisco citar nomes para não ser injusto com ninguém) que fizeram suas doações, colaboraram, , curtiram e compartilharam os nossos posts.

A Guarda Municipal de Aracaju, através de seu Diretor Cel. Enilson que juntou forças e demonstrou atenção e total interesse em seus munícipes.



Foto: Ascom/Guarda Municipal de Aracaju



Não posso deixar de registrar aqui o apoio dos meios de comunicação: TV Sergipe (afiliada Globo), TV Atalaia (afiliada Record) em nome de Bareta e Dona Lígia e Jornal Cinform e a página do FACE

Aracaju, como eu vejo. que tão importantes foram para a disseminação desta ação

Saibam todos, estamos muito felizes com o sucesso da campanha, foram mais de 1000 peças arrecadadas.

Ontem, 10 de setembro fomos ao centro da cidade e região dos mercados para realizar a entrega de uma parte da arrecadação, isso mesmo uma parte, pois o volume de peças foi tão grande que não deu para distribuir tudo de uma única etapa, em breve faremos a segunda etapa de entrega e manterei a todos informados"
.



Fizemos a nossa parte. Falta o Governo fazer a dele!!!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Grito que Vem das Ruas...


Por Anderson Barbosa


Foto: Reprodução Tv Sergipe


Não tem pauta melhor do que àquela pensada pelo próprio repórter. Sensação ainda mais gratificante é quando a nossa ideia é abraçada por toda a equipe. Foi assim com a matéria sobre os Moradores de Rua que vivem em  Aracaju exibida nos telejornais SETV1 e SETV2 da Tv Sergipe, afiliada à Rede Globo, onde trabalho há 7 anos.

Todos os finais de tardes, a caminho da emissora, passo pelo centro comercial já no final do expediente. A grande maioria das lojas está com as portas fechadas e um outro tipo de comércio entra em cena. São dezenas de camelôs ofertando produtos do Paraguai a preço de banana, sem as garantias de um que chega ao país dentro das normas legais, mas que quebram o galho de muita gente, nem que seja de forma paliativa.


Cleones Santos, um repórter cinematográfico que vive a reportagem, tem amor pelo que faz...
 
Naquela segunda-feira, daquele 19 de agosto, viveria mais uma experiências  marcante em minha vida profissional ao lado dos colegas Cleones Santos (repórter cinematográfico) e Alex Brum (motorista).  Afinal, quantas vezes reclamos da comida que chega a nossa mesa, da cama que não foi coberta com o lençol predileto ou ainda,  reclamamos de passar uma noite sem o ar-condicionado. É até vergonhoso olhar tais situações como problemas , ainda mais quando observamos esta gente sorri por receber um simples prato de comida, o primeiro do dia, assim como foi para seu Ginaldo após o café reforçado feito por voluntários que todas às noites partilham o fruto de doações de tantos que se sentem felizes em matar a fome desses abnegados.

Foto: Reprodução Tv Sergipe

Há meses tinha buscado neste caminho uma forma de contar a rotina ignorada por alguns membros da sociedade, mas que segundo a Prefeitura de Aracaju são mais de 400 pessoas vivendo nestas condições conforme um cadastro municipal.

Após cruzar o calçadão, sigo ao lado do maior prédio da capital, o do Estado de Sergipe ou Maria Feliciana como é mais conhecido - uma homenagem à mulher mais alta de Sergipe. Nos próximos 300 metros a caminhada é por uma cidade que parte das milhares de pessoas que cruzam o centro comercial todos os dias não imaginam  existir.

Às calçadas cobertas por todos os tipos de sujeira acumuladas ao longo do dia são transformadas em alojamentos, tomadas por pessoas que não têm onde morar, nem para aonde ir e fazem das ruas seu lugar de descanso. Aqui não se faz muita exigência: papelão no chão, lençol - para os que têm - e a esperança de dormir e acordar bem na manhã seguinte.

A paz nas ruas é uma incerteza perdurada pela noite e madrugada. Foi num desses dias que o alagoano Pedro Ambrósio, 35 anos, pai de 5 filhos acordou sendo alvejado por um homem enfurecido o qual deu vários golpes de facada. Por sorte, o desempregado conseguiu sobreviver e hoje ainda tenta entender o que provocou àquela atitude agressiva.

Seu Ginaldo Santos, um ex-trabalhador rural em Ilha das Flores (SE), trocou há 4 anos o campo pela capital na esperança de melhorar de vida. "A gente trabalhava  e depois quem passou a fazer tudo foram as máquinas. Aí ficou ruim de trabalho, aí eu vim aqui para Aracaju", relembra.

O tempo foi passando e a minha frente juntou um grupo de moradores que no primeiro contato não parecia a vontade com a câmera e o microfone, nossos instrumentos de trabalho. Depois de terem a certeza que nossa presença tinha a melhor das intenções, eles começam a disparar informações.

Foto: Reprodução Tv Sergipe
 
Seguimos na direção do INSS e na metade do caminho observamos que a vida nas ruas provoca traumas que mexem com a razão, provocam a loucura... Numa marquise encontramos duas senhoras, uma delas encostada num saco repleto de latinhas de alumínio catadas durante o dia. Aquele amontoado de material reciclável servia como travesseiro. Sentei ao lado dela e com uma gentileza daquelas de quem estava a procura de alguém para conversar foi logo respondendo minhas perguntas.

As informações eram desconexas, realidade e ilusão trilhavam um mesmo pensamento. A mulher disse ter 61 anos e demonstrou domínio em pelo menos duas línguas: Espanhol e Inglês. Fez até questão de cantar e traduzir uma música, uma espécie de oração, de clamor a Deus.

O frio parecia tomar as ruas vazias de Aracaju. Por voltas das 20h a chuva marcou  presença naquele noite de inverno. E se tem chuva na cidade, para os moradores de rua é motivo de preocupação. Com rajadas de vento, a sensação térmica é de um frio que a mente humana  nem sempre interpreta da mesma forma que os termômetros.

Seguimos para outro ponto da cidade, agora próximo aos mercados centrais. Pelos menos 10 pessoas estavam sob as marquises de lojas, cobertas por lençóis... A  posição fetal ajudava a manter o corpo aquecido.

Num barraco improvisado, avistamos uma senhora de nome Socorro que estava acompanhada do esposo, um senhor de pouca conversa. Há três meses o casal passou a morar na rua, apesar do marido passar o dia inteiro fazendo bicos.

Encolhida no barraco, protegida por lençóis e papelões cercando a construção improvisada no meio da calçada tentei falar com Socorro sobre a chuva e a queda na temperatura. "O frio aumenta na madrugada. Aí a gente cobre com papelão e fica normal", explicou ainda com um sorriso no rosto, seguido por um olhar preocupado com a impaciência do marido, irritado com a minha insistência.

Nesta mesma noite encontrei o médico infectologista Marco Aurélio, o qual explicou que a vida nestas condições faz cresce o número de problemas de saúde nesta população. "O frio aumenta o risco das pneumonias e infecções respiratórias que também  desenvolvem o risco de outras doenças, como a tuberculose.  A imunidade diminui ainda mais quando associam tudo isso ao uso de drogas como o crack".

Foto: Reprodução Tv Sergipe


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país cerca de 1,8 milhão de pessoas vivem nas ruas. Um contingente que representa entre 0,6% e 1% da população.  Um povo nem sempre compreendido. "Essas pessoas muitas vezes sofrem decepções familiares. São frutos do alcoolismo, sofrem com as drogas, abandonam os lares e não têm condições de psicológicas, nem sociais de enfrentar os problemas, por isso, passam a viver nas ruas e são marginalizadas pela sociedade", contou o mestre em comunicação e cultura Gilton Kenedy.

Durante a nossa reportagem encontramos dona Maria José, uma catadora de materiais recicláveis que tira do trabalho uma renda de R$ 200,00/ mês. É com este dinheiro que paga as contas do barraco comprado há 4 anos na região Norte de Aracaju. Da conversa que tivemos, o que mais chamou a atenção foi o fato dela está também há 4 anos lutando para conseguir algum benefício do Governo Federal.

A situação de onda Maria José é um problema que afeta outras  4,8 milhões de pessoas no Brasil vivendo em condições de extrema pobreza,  com renda mensal domiciliar igual a zero. Pouco mais de 11 milhões possuem a renda de R$ 1,00 a R$ 70,00 por mês, segundo o IBGE/2011. E é justamente esta desigualdade social o principal fator que leva muita gente a morar nas ruas.


sábado, 17 de agosto de 2013

Intérprete de Libras‚ um trabalho pela inclusão...

Por Anderson Barbosa

"Zelar pelos valores éticos... pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo...”, papéis atribuídos ao intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) estabelecidos na lei 12.319 de 2010, que entrou em vigor no país em setembro daquele ano, oito anos depois da Libras ser reconhecida como a segunda língua oficial do país.
 
Intérprete em sala de aula. Fonte: revistaescola.abril.com.br

O profissional  tem papel fundamental no processo de inclusão do surdo e hoje pode ser visto dentro da sala de aula, na televisão, em conferências e até mesmo em consultórios onde a presença das pessoas com deficiência auditiva acontece com frequência. “Trabalhar com surdos foi um dom que Deus me deu e uma opção de vida. Apoiá-los para tentar amenizar essa angústia é muito gratificante”, relata a intérprete Marlize Wolf Jaune, do Mato Grosso do Sul.

A lei federal, no artigo 2º traz a seguinte redação: O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa”. 


Intérprete de Libras,
uma ferramenta da inclusão

A comunicação feita com as mãos já havia sido lembrada pelo Decreto 5.526 de 2005, o qual concedeu às pessoas com deficiência auditiva o direito de ter um profissional intérprete nas escolas públicas, privadas, entre outros espaços. Segundo a Associação dos Intérpretes de Libras de Sergipe existem cerca de 80 intérpretes atuando em escolas das redes públicas  que atendem a 570 alunos no ensino médio e fundamental e cerca de 20 alunos nas universidades. 

Marcela Mendonça é graduada em educação física. Aos 4 anos teve caxumba, provocando perda auditiva que evoluiu do estágio  leve para o profundo. Ela bem sabe o significado de um intérprete. “Aos dezesseis anos de idade , fiquei praticamente surda”, relata.

Marcela Mendonça: "Com o intérprete, o surdo é incluído"


Para ela, ter um profissional que ajude na comunicação entre o cidadão surdo e as pessoas que não possuem a deficiência só fortalece o processo de inclusão. “Existem surdos que, por causa do seu histórico auditivo, não podem fazer o implante coclear. Com o intérprete, o surdo é incluído socialmente nas escolas, faculdade...”, observa Marcela Mendonça.

A pedagoga Joseneide Nunes trabalha como intérprete há 10 anos e é vice-presidente da Associação dos Intérpretes de Libras de Sergipe . Começou admirando jovens se comunicando utilizando a Libras. Quando fazia estágio na Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) de Aracaju  precisou aprender a linguagem para dar aulas de educação para o trânsito à estudantes surdos.

Atualmente acompanha um estudante com surdez profunda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Para realizar o trabalho‚ o estudo da Língua Brasileira de Sinais é contínuo. "A interpretação depende do contexto e o nós precisamos ter um rico vocabulário. Fiz muita pesquisa‚ nunca parei de estudar... Às vezes tem palavras sem o sinal e o intérprete tem que fazer a adaptação de fácil compreensão", explica.


"É um dia de luta pelo reconhecimento da profissão, pelo ingresso nas salas de aula"
Joseneide conhece histórias de pessoas  como a de um casal surdo que se deparou com profissionais da área médica  sem a formação em Libras e acabou passando a medicação errada. "Este fato nos incentiva a continuar junto a comunidade surda", disse.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pauta Amiga, Muito aprendizado...



Por Anderson Barbosa
  
Entrar na redação, encontrar a produtora e pegar a pauta. Parece uma tarefa simples, e é. A sequência destas ações culmina com uma conclusão, às vezes precipitada, mas  que dá noção ao repórter se ele terá uma jornada para cumprir de forma corrida ou com mais tempo, com um largo sorriso no rosto.  Há exatos 8 anos de formação em Jornalismo já vivenciei as duas situações inúmeras vezes...


Foto: Arquivo Pessoal


Quando a gente se forma sonha com um cotidiano semelhante ao vislumbrado nos contos dos livros onde tudo é perfeito. Porém, a realidade nem sempre nos presenteia com as pautas tão desejadas( meus primeiros anos no Jornalismo foram enfrentando as áreas que nunca tive boa relação. Muitas vezes as reencontro, tento superar os traumas (risos)). Perdi as contas de quantas vezes falei mal da produção, do encaminhamento sugerido na pauta, das vontades de esganar mentalmente  a editora e as centenas de vezes que fiquei sem saber como agir diante das letrinhas loucas que pareciam querer  devorar meu juízo. E nem sempre temos a razão...

Alegrias e tristezas, tristezas e alegrias... Hoje, quero falar daquelas pautas que enchem  os olhos de brilho, instigam lágrimas de felicidade e estampam um imenso sorriso na cara – daqueles feito criança quando recebe um doce ou é informada que a brincadeira não tem hora para acabar.

                                                                             * **

Quarta-feira, 20 de março de 2013. Aparentemente era mais um dia como outro qualquer. Repeti todos os passos na redação da Tv Sergipe ( Afiliada da Globo, em Aracaju/SE), e ao ler a retranca da pauta (onde aparece o tema da matéria)  percebi que estava diante da área que tanto gosto: inclusão social.

A pauta, que nada mais é do que um roteiro com dados e endereços dos entrevistados, trazia informações do pediatra e geneticista Zan Mustacchi, chefe do Departamento de Genética do Hospital Estadual Infantil Darcy Vargas: “Por ano nascem no Brasil cerca de cinco mil pessoas com a síndrome de down” .

Naquele instante um turbilhão de ideias começou a surgir, expectativas do que encontraria naquela tarde e de como poderia transformar as informações numa reportagem envolvente, emocionante...

O sorriso largo - que me acompanhou durante toda a jornada - era perceptível à todos. Colegas de profissão, motoristas, editores... Quem encontrava pela frente não tinha dúvida: o canto que saia da minha boca era de felicidade. Naquela quarta-feira, véspera do Dia Internacional da Síndrome de Down , conheci pessoas e realidades exemplos de que nunca devemos parar. Não importa a barreira.

Gabriel quer ser marinheiro


O primeiro contato foi com um jovem como outro qualquer, não fossem os traços da deficiência vistos de longe. Gabriel Santana, 16 anos, é aluno do 9 do Ensino Fundamental, sonha em ser marinheiro. Para realizar o desejo sabe que precisa de dedicação. "Eu sou bom aluno, estudo muito, respeito meus colegas e professores", diz Gabriel.

A professora de nome Eugênia tinha a missão de ensinar, mas com Gabriel foi mais aluna do que mestra.  “No início enfrentei dificuldade porque não tinha a formação para trabalhar com pessoas com deficiência, mas ele me ensinou  cada passo, como   desenvolvê-lo. É muito bom esta troca experiência com o Gabriel”, relata emocionada Eugênia Pereira .


"É muito bom esta troca experiência com o Gabriel” - Eugênia Pereira


A mãe do Gabriel também estava por lá, registrava o nosso trabalho e parecia encantada com o filho nada inibido. Ele cantou o sucesso sertanejo do momento no Brasil “Camaro Amarelo”, fez declaração de amor para a família e para uma suposta namoradinha. As gargalhadas que o jovem arrancou na sala de aula, escondiam um passado de muita luta firmado na legislação brasileira, uma das mais ricas do mundo. "A primeira escola era pequena e não tinha o cuidado e um tratamento de que ele necessitava. Gabriel ficava isolado, sem interagir com a turma”, revelou dona  Ana Paula Santana Santos Ferreira, uma assistente social que nunca desistiu do filho.

Nossa equipe seguiu pelos corredores da escola particular, localizada na zona sul de Aracaju, para gravar mais uma entrevista. No final de um deles encontrei Alice  de 4 anos , filha da pedagoga Carla Eugênia, e uma das professoras da instituição. A menina pintava um desenho.

Ao ver a mãe, Alice ficou encantada. As poucas horas que separaram foram suficientes para provocar uma saudade que só o amor de filha para com a mãe pode explicar. O repórter-cinematográfico Marcos Ricart, conhecido no meio jornalístico como Ceará, registrou tudo... inclusive as minhas tentativas de entrevistar a Carla com a pequena no braço. Para Alice, a espuma do microfone virou objeto de brincadeira e por várias vezes tivemos de parar.  

"Eu acredito na potencialidade da Alice" - Carla Eugênia

As tentativas seguiram, agora para arrancar algumas palavras da menina que não estava preocupada com a entrevista.  (Nessas horas é preciso ser como elas. Entrar na brincadeira e fazer a conquista. Não é fácil, e nem sempre consigo). Até que finalmente veio a frase esperada: “mamãe eu te amo”, alguns ensaios foram necessários (rs)Há quatro anos a pedagoga  não imaginava viver  momentos como este com a segunda filha, que  nasceu com síndrome de down e  trouxe mudanças para ela. Hoje, Alice é uma criança feliz, Carla uma mulher com um tesouro nas mãos. "Tive que reaprender.  Passei os quatro meses da licença maternidade lendo tudo sobre a síndrome, buscando informações com amigosVivi  a fase do luto, chorei muito, mas corri atrás e ainda estou buscando o melhor para minha filha. Eu acredito na potencialidade dela e tudo será feito dentro do tempo da Alice”, desabafa emocionada.

O nosso encontro com o a última família ocorre do outro lado da cidadã, na zona norte de Aracaju.  Na casa em reforma encontro a família de dona Gisélia dos Santos,  que já  estavam a minha espera.  Gisélia estava uma de suas filhas e o Igor Eduardo, de três anos, garoto que nasceu com a síndrome.  A mãe conta que a filha, Elenise, é o braço direito dela. A moça cuida do garoto, enquanto  a dona de casa prepara o almoço da família ou vai à escola. Isso mesmo,  depois de décadas sem estudar decidiu frequentar as aulas do projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursa o primeiro no do Ensino Médio. “Voltei para ajudá-lo, para saber o que ele precisa e entender um pouco mais a reação das pessoas diante dele. Foi difícil, mas tô conseguindo”, conta empolgada.  (Desculpa a falha do repórter... não tive como segurar a emoção e acabei por esquecer algumas regras do bom Jornalismo. Sequer  perguntei  a idade dela. Para não cometer outra falha, nem vou arriscar uma idade)

Foto: Arquivo Pessoal


Já era noite quando voltei à redação louco para escrever o que tinha aprendido naquela jornada prazerosa. Cada olhar lançado, cada palavra dita, tudo ecoava na minha mente, no coração. Neste momento já não sabia mais separar o jornalista do cidadão. Guardei o beijo carinhoso no rosto da pequena Alice, uma menina que do seu jeito conquista seu espaço na sociedade e no coração de todos os que se aproximam.




Fotos sem identificação: Reprodução Tv Sergipe

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Memorial da Inclusão, um resgate da cidadania



Se você tem interesse na história das pessoas com deficiência então fique ligado. O Governo do Estado de São Paulo mantém o “Memorial da Inclusão” que fica localizado na av. Auro Soares de Moura Andrade, 564, no bairro  Barra Funda. O local está aberto à visitação e qualquer dúvida a respeito pode ser esclarecida pelo número  (11) 5212.3700.

Nele o cidadão ou o pesquisador encontram inúmeras informações sobre a história das pessoas com deficiência, as lutas por espaços na sociedade, a legislação e fotografias de vários momentos onde obtiveram conquistas.



Além do ambiente físico, o internauta também pode viajar pelo memorial acessando o site http://www.memorialdainclusao.sp.gov.br. De uma forma interativa é possível conhecer as quatro salas e ler com tranquilidade tudo o que está exposto na capital paulista como a história de Maria de Lourdes Guarda, uma das fundadoras da Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes - FCD, no Brasil, em 1972. “A organização foi uma das primeiras manifestações de autonomia das próprias pessoas com deficiência”.

Bom acesso e ótimo aprendizado...